A população paga para que os estudantes da USP se tornem profissionais competentes, e não para que façam greve ou depredem patrimônio público
O episódio na USP está circundado de aspirações injustificáveis.
Os mesmos alunos que se dizem preocupados com a igualdade pleiteiam, apenas para si, o direito de fumar maconha sem que sejam importunados.
Não cabe, nesta oportunidade, discutir o mérito de o porte de maconha para uso próprio ser crime; cumpre, entretanto, refletir sobre a pretensão de receber tratamento privilegiado relativamente àquele dispensado ao jovem que se encontra fora dos muros da universidade.
Não condiz com quem se apresenta defensor da igualdade exigir regalias. Ademais, a universidade, sobretudo a pública, é local destinado ao estudo e à pesquisa, não ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas.
Feita assembleia, que votou pela não invasão da reitoria, a decisão foi desrespeitada, sendo que, após várias prorrogações de prazo para saída pacífica, a polícia interveio para desocupar o prédio público.
Durante a infundada invasão, os jovens -alguns nem tanto- ostentaram roupas de grife e automóveis novos. Nesse interregno, seus pais não compareceram para levá-los para casa. Quando da condução à delegacia, alguns pais surgiram para apoiar a atitude dos filhos, alardeando tratar-se de presos políticos.
Aí, novamente, a pretensão de privilégios. Será político o pleito de criar um território livre? Será político o pleito de ter liberdades não conferidas aos demais pagadores de impostos, inclusive os jovens que sofrem descontos em seus salários para que o estudo dos invasores seja custeado pelo Estado?
Ao ser questionado sobre a reintegração, o ministro da Educação afirmou que a USP não é a cracolândia. Seriam as pessoas que frequentam a região da cracolândia cidadãs de segunda classe?
A maior parte dos atuais governantes lutou contra a ditadura e, ao que parece, ao terem vencido, deixaram supostos revolucionários órfãos. Frases legitimamente pronunciadas durante a conquista da liberdade findam sendo utilizadas por quem ainda procura uma causa.
A manifestação do pensamento é direito constitucional, tanto que o Supremo Tribunal Federal liberou a Marcha da Maconha. Todos estão legitimados a postular a revisão da lei; entretanto, não é democrático o encastelamento.
A população paga para que os estudantes da Universidade de São Paulo estudem e se tornem profissionais competentes, melhorando as condições do país.
O povo não paga para que tenham benefícios pessoais, nem para que depredem o patrimônio público ou façam greve. Aliás, os alunos haveriam de exigir aula, não paralisar a universidade.
Igualdade, na visão liberal, implica tratar todos de forma equânime. Sob a perspectiva social, enseja tratar com maior tolerância os menos favorecidos.
Sob esse viés, que deveria ser o adotado pelos que se apresentam como não elitistas, os alunos da USP haveriam de ser tratados com maior rigor, sendo-lhes exigidas maiores notas, maior frequência e menor tempo para término dos cursos.
O Brasil precisa, definitivamente, abandonar o dogma “para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”. É papel do educador ensinar essa lição.
Fonte: Folha de São Paulo
Data: 11/11/2011